10 Perguntas para Carlos Nobre - Cada vez mais quente
Por Gisele Brito
gisele.brito@folhauniversal.com.br
Por Gisele Brito
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É praticamente um consenso entre a comunidade cientifica que a ação do homem sobre a Terra vem alterando a temperatura. E, ao mesmo tempo em que a humanidade prejudica a natureza, a natureza reage de maneira mais intensa. Carlos Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e integrante do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas fala a respeito de prevenção e adaptação à nova realidade que terá de ser enfrentada com o aquecimento global.
1 – Como eventos climáticos extremos estão associados às mudanças de temperatura?
Várias coisas causam mudança climática. A mais importante é o aquecimento global causado por nós. O lançamento de gases no ambiente proveniente da queima de combustíveis tem a propriedade de aquecer a superfície. Isso se chama efeito estufa. Nos últimos 120 anos a temperatura média da Terra aumentou 0,8 graus. Pode parecer pouco. Só que quando a temperatura começa a subir o sistema climático reage. Então tudo está mudando. Um planeta mais quente permite que algumas categorias de fenômenos extremos, como ondas de calor e chuvas intensas aconteçam mais vezes.
2 – O senhor disse que os eventos extremos de São Paulo estão relacionados com a urbanização...
Em uma grande área urbana a própria urbanização muda o clima.
3 – O mundo tem se urbanizado cada vez mais. O efeito é o mesmo?
Vamos com calma. A área urbana de todo o planeta é muito pequenininha. Não se pode imaginar que o que está provocando o aquecimento global seja a urbanização. A área urbana de todo o planeta é menos de 2%. Em São Paulo sim, a área urbana muda o clima. Em cem anos a temperatura do centro de São Paulo aumentou algo entre 3 graus a 3,5 graus. Nós projetamos, no cenário de maior aumento das emissões planetárias, que a temperatura global aumente 3,5 graus. O que vai acontecer no planeta nos próximos cem anos, já aconteceu em São Paulo, por razões e intensidades diferentes.
4 – O senhor afirma que países desenvolvidos já estão se preparando para as mudanças climáticas. O que eles estão fazendo?
As cidades de Nova York (Estados Unidos) e Rotterdam (Holanda) estão planejando a infraestrutura de seus portos, os maiores do mundo. Gastaram US$ 25 milhões (R$ 42,8 milhões) só para fazer estudos. Nova York fez um belíssimo estudo para ver como a cidade, o metrô, os trens, a eletricidade e o abastecimento de água vão mudar com o aquecimento global. Nova York é uma cidade costeira. Sofre com o aumento do nível do mar, mas tem outras dificuldades. Verões mais quentes significam um aumento do consumo de eletricidade. De onde vai vir essa eletricidade? Tudo isso está sendo pensado. Os países desenvolvidos não estão dormindo. A maioria já testa alternativas.
5 – Quais, por exemplo?
Historicamente cerca de 30% do território holandês fica abaixo do nível do mar. Há séculos eles têm diques que contêm a água e um sistema de bombeamento para jogar a água da chuva para o mar. Se o nível do mar subir acima de um limite, não vale mais a pena subir os diques para conter a entrada da água. Então a Holanda já tem três ou quatro experimentos de cidades flutuantes.
6 – E o Brasil tem se preparado?
Nós estamos indo no sentido da diminuição das emissões de gases. O Brasil assumiu uma liderança mundial. Foi o único país em desenvolvimento que assumiu compromissos sérios de redução de emissão. Mas, temos que fazer as adaptações aos eventos extremos. Proteger a economia, a sociedade e o ecossistema.
1 – Como eventos climáticos extremos estão associados às mudanças de temperatura?
Várias coisas causam mudança climática. A mais importante é o aquecimento global causado por nós. O lançamento de gases no ambiente proveniente da queima de combustíveis tem a propriedade de aquecer a superfície. Isso se chama efeito estufa. Nos últimos 120 anos a temperatura média da Terra aumentou 0,8 graus. Pode parecer pouco. Só que quando a temperatura começa a subir o sistema climático reage. Então tudo está mudando. Um planeta mais quente permite que algumas categorias de fenômenos extremos, como ondas de calor e chuvas intensas aconteçam mais vezes.
2 – O senhor disse que os eventos extremos de São Paulo estão relacionados com a urbanização...
Em uma grande área urbana a própria urbanização muda o clima.
3 – O mundo tem se urbanizado cada vez mais. O efeito é o mesmo?
Vamos com calma. A área urbana de todo o planeta é muito pequenininha. Não se pode imaginar que o que está provocando o aquecimento global seja a urbanização. A área urbana de todo o planeta é menos de 2%. Em São Paulo sim, a área urbana muda o clima. Em cem anos a temperatura do centro de São Paulo aumentou algo entre 3 graus a 3,5 graus. Nós projetamos, no cenário de maior aumento das emissões planetárias, que a temperatura global aumente 3,5 graus. O que vai acontecer no planeta nos próximos cem anos, já aconteceu em São Paulo, por razões e intensidades diferentes.
4 – O senhor afirma que países desenvolvidos já estão se preparando para as mudanças climáticas. O que eles estão fazendo?
As cidades de Nova York (Estados Unidos) e Rotterdam (Holanda) estão planejando a infraestrutura de seus portos, os maiores do mundo. Gastaram US$ 25 milhões (R$ 42,8 milhões) só para fazer estudos. Nova York fez um belíssimo estudo para ver como a cidade, o metrô, os trens, a eletricidade e o abastecimento de água vão mudar com o aquecimento global. Nova York é uma cidade costeira. Sofre com o aumento do nível do mar, mas tem outras dificuldades. Verões mais quentes significam um aumento do consumo de eletricidade. De onde vai vir essa eletricidade? Tudo isso está sendo pensado. Os países desenvolvidos não estão dormindo. A maioria já testa alternativas.
5 – Quais, por exemplo?
Historicamente cerca de 30% do território holandês fica abaixo do nível do mar. Há séculos eles têm diques que contêm a água e um sistema de bombeamento para jogar a água da chuva para o mar. Se o nível do mar subir acima de um limite, não vale mais a pena subir os diques para conter a entrada da água. Então a Holanda já tem três ou quatro experimentos de cidades flutuantes.
6 – E o Brasil tem se preparado?
Nós estamos indo no sentido da diminuição das emissões de gases. O Brasil assumiu uma liderança mundial. Foi o único país em desenvolvimento que assumiu compromissos sérios de redução de emissão. Mas, temos que fazer as adaptações aos eventos extremos. Proteger a economia, a sociedade e o ecossistema.
7 – O senhor defende a aproximação da climatologia com outras ciências. Por quê?
Você não pode comparar os eventos extremos do futuro baseado nos eventos extremos do passado. O planejamento de obras hidrelétricas não olha o futuro. Ele pensa assim: eu tenho o registro da vazão desse rio em cem anos. E assume que essa vazão vai continuar no futuro e diz que o empreendimento vai gerar um tanto de energia elétrica. É preciso mostrar que esses cálculos estão furados.
8 – Os investimentos para frear o aquecimento são satisfatórios?
No Brasil são totalmente insatisfatórios
9 – É possível explorar o petróleo do pré-sal de forma sustentável?
É complicado. Testes da Petrobras mostraram que aquele petróleo tem uma enorme quantidade de gás carbônico. E não tem jeito de explorar o poço sem trazer o gás. Se soltar o gás carbônico, a própria exploração vai aumentar muito as emissões brasileiras. O que fazer? Separar o gás carbônico do óleo? Isso aumentaria em 20%, 30% o custo. O pré-sal traz uma possibilidade complexa para o Brasil. O País diminui as emissões do desmatamento e, de repente, começa a aumentar no setor de energia, de uma forma insustentável.
10- Há resposta para essa contradição?
Ainda não. Porque não é realista um País que tenha uma riqueza energética em petróleo não explorá-la. Se o Brasil fosse um país desenvolvido poderia usá-lo de uma maneira mais inteligente, na indústria petroquímica, para fazer plástico, produtos agrícolas, fertilizantes. Dessa forma também se emite gases poluentes, mas a quantidade é menor e o uso mais nobre. E queimaríamos biocombustível e usaríamos carro elétrico. Mas nós não somos um País rico. E o olho só vê cifrão. Alguns são bem intencionados, interessados em alavancar o desenvolvimento brasileiro. Já outros...
Você não pode comparar os eventos extremos do futuro baseado nos eventos extremos do passado. O planejamento de obras hidrelétricas não olha o futuro. Ele pensa assim: eu tenho o registro da vazão desse rio em cem anos. E assume que essa vazão vai continuar no futuro e diz que o empreendimento vai gerar um tanto de energia elétrica. É preciso mostrar que esses cálculos estão furados.
8 – Os investimentos para frear o aquecimento são satisfatórios?
No Brasil são totalmente insatisfatórios
9 – É possível explorar o petróleo do pré-sal de forma sustentável?
É complicado. Testes da Petrobras mostraram que aquele petróleo tem uma enorme quantidade de gás carbônico. E não tem jeito de explorar o poço sem trazer o gás. Se soltar o gás carbônico, a própria exploração vai aumentar muito as emissões brasileiras. O que fazer? Separar o gás carbônico do óleo? Isso aumentaria em 20%, 30% o custo. O pré-sal traz uma possibilidade complexa para o Brasil. O País diminui as emissões do desmatamento e, de repente, começa a aumentar no setor de energia, de uma forma insustentável.
10- Há resposta para essa contradição?
Ainda não. Porque não é realista um País que tenha uma riqueza energética em petróleo não explorá-la. Se o Brasil fosse um país desenvolvido poderia usá-lo de uma maneira mais inteligente, na indústria petroquímica, para fazer plástico, produtos agrícolas, fertilizantes. Dessa forma também se emite gases poluentes, mas a quantidade é menor e o uso mais nobre. E queimaríamos biocombustível e usaríamos carro elétrico. Mas nós não somos um País rico. E o olho só vê cifrão. Alguns são bem intencionados, interessados em alavancar o desenvolvimento brasileiro. Já outros...
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